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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Bom Natal e Ano-Novo para todos!

Fim de ano, aquela coisa né. Coletivo Arterizar de férias.

Ficamos devendo algumas coisas neste fim de 2009, algumas por culpa de pessoas que falaram que iriam nos ajudar, mas no máximo nos deram um bolo podre de presente. Outras por culpa nossa mesmo. E outras pelo tempo (vale falar isso?...).
Mas enfim, temos vários projetos para o ano que vem, para fazer crescer este nosso coletivo artístico, agrupando mais pessoas, melhorando nossa organização e aumentando/diversificando nossa produção e também nossa ação.
Continuaremos usando o blog como forma de divulgarmos nossas atividades, então fiquem ligados! A produção não pára nunca (sem essa de "para" sem acento, a reforma ortográfica não chegou aqui ainda), então em breve algumas coisas novas por aqui já.
No mais, até 2010 meus amigos e amigas. Fiquem aí com um pequeno escrito de fim de ano.
-Tem enquete nova no blog também...lá embaixo, no fim da página.

Pequena Estória sobre o Espírito de Fim de Ano

*Por Raul Machado

O bêbado, sentado sozinho na sacada de seu apartamento, comemora o natal com uma garrafa de uísque. Matutando sobre o espírito natalino, e de fim de ano, ele se assombra. Espírito é coisa de filme de terror.
Ainda são sete horas da noite, e lá embaixo na rua ele vê passar uma criança.
-Feliz Natal, meu jovem!
-Papai Noel não existe!
-Então feliz ano novo adiantado pra você, pequeno!
-Eu sigo o calendário chinês, mas...
-Ah, vai-te a merda seu moleque filho de uma égua!

Toma a garrafa inteira e sai pelos inferninhos da cidade, sem ver o ladrão entrar por sua chaminé e roubar-lhe a árvore de natal. Acorda só em 2010, com uma puta ressaca ao lado de uma bela mulher vestida de Mamãe Noel, o seu maior fetiche. Se não fosse pela dor de cabeça, ele até esboçaria um sorriso amarelo. Ele está, enfim, feliz. Fodeu o seu natal e acordou no futuro.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vídeo-Poesia Amador

*Mais Coletivo Arterizar no youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=Kw1ttvJpbNk&feature=channel

Vídeo-poesia tosco e amador, de Raul Machado, com música de Fernando Bijos.

Conto

*De Raul Machado

*Experiência de escrever livremente, rimando sem pretensão. Conto-Livre.Vejam o resultado da brincadeira:



Na gaveta há morangos de verão

Acordes de violão me acordam com a corda no pescoço, como um cão sem seu osso, sem seu céu, como eu sem meu chapéu. Ah, se na minha gaveta houvesse morangos, já dizia o profeta e o feirante que me entrega abacaxis de bicicleta. Mas não há não, ainda não é verão. –Só no Japão, grita Anacleto, meu sobrinho que não enxerga de perto. Sim, ele está correto. Que merda!
Confesso, de tarde eu tardo a ver o mundo certo. Os vizinhos fazem um alarde, mas eu calmamente desligo meu alarme. Não há ladrão, e se tivesse já estaria rendido pedindo perdão, chorando como criança no chão. Que ânsia... Talvez fosse vontade de vingança, ou o telefonema da minha ex avisando-me que teve uma criança. Se tivesse casado com ela, poderia ter sido um burguês, ao menos uma vez. Mas a rejeitei, quanta sensatez!
Voltando ao assunto, eu quero mudar o mundo, quero ser mais astuto, e tudo isso com meus amigos juntos. Mas o que mais me intriga, ainda são os morangos da sensação, do verão, que me valem uma boa briga.
Tudo houve de mudar quando o mudo ousou falar. “As escadas, quando grandes, cansam mais que tiros de armas”. Ouvi, meditei, mijei, de bêbado cai. Mas a mensagem não foi de passagem, apesar de minha pouca idade, escutei como se fosse lema de toda eternidade! Mas que pena de mim, moleque sem fim, desiludido e perdido pela busca de dim-dim. Queria os morangos, e teria que ser assim, uma épica busca, como virgem pela puta, nada estática, muito estética... Enfim.
Em fria noite de inverno, eu que dormia como urso iberno, me via como fraco humano que chora ao deparar-se com o inferno, sem reza que me salve, sem preza que me acalme, sem remédio que me cure, sem anjo que prometa o eterno que me ature. Deus, onde estão os amigos teus? Pois lá descobri que o diabo odeia pecador atrasado, banana com açaí e queijo quente no calor, além de amor mal amado. Mandei-lhe um beijo e sorri. Ledo engano, aqui não sou eu quem mando. Estou queimando!
-E o meu morango? Meu morango de verão?
Deu uma pirueta, e seguiu andando, como Michael Jackson deslizando no chão.
-Seu morango, aquele do verão, está naquela gaveta.
Quase abri uma vez. Na segunda abri e me perdi. Na terceira me fez de freguês. Beijei o capeta. A culpa me satisfez. Agora é sua vez, disse amassando o pão, o próprio cão. Que tesão!
Vi surgir do nada, a arca de Noé, cair como água uma chuva de “mé”, acredite quem quiser. O paraíso se abriu, era ainda verão e já era abril, era o fim e Caim não partiu, somente de desilusão discretamente caiu. Tudo era eu, nunca nada mais que isto existiu, nem aquele chato ateu, parente teu.
Era eu, e eu era nada. Mas rolando no imaginário de meu coração, estava aquele atalho ateado de morango de verão. Parecia água.

E a gaveta? Pergunta-me o cético incrédulo.

Era a buceta da sua mãe, seu patético. Respondi grosseiro, mas na ofensa certeiro, pedindo calma pela minha alma de demência. De razão, clamo pois sofro carência. Amém...doim! Dois reais o pacote.
E no fim da noite o dia me sacode. Filho da puta, acorde! – Acordo, e oro. A arca não é de Noé, mas estou novamente a bordo! –E o morango? Grita-me o infinito, ainda que manco.

Por uma Arte Revolucionária Independente, de André Breton e Leon Trotsky

POR UMA ARTE REVOLUCIONARIA INDEPENDENTE


Introdução

Em 1938, na Cidade do México, o revolucionário russo Leon Trotsky e o poeta surrealista francês André Breton redigiram, após longas discussões, o manifesto “Por uma arte revolucionária e independente”. Embora tivessem encontrado-se pela primeira vez poucos meses antes da redação do manifesto, anos antes um forte laço vinha se formando entre estas duas personagens tão importantes quanto diferentes do século XX. Quando ainda membro do Partido Comunista Francês (PCF) , no começo da década de 30, Breton e alguns outros artistas próximos a ele rejeitam a chamada “literatura proletária”, imposta pelo estalinismo, através da Associação Russa de Escritores Proletários (AREP). Neste debate, travado dentro da Associação de Escritores e Artistas Revolucionários (AEAR), utilizam argumentos próximos das teses desenvolvidas por Trotsky na obra Literatura e Revolução, escrita em 1924. Mais tarde, em 1934, assumem abertamente postura contrária à expulsão de Trotsky da França e saúdam “o organizador do Exército Vermelho que permitiu ao proletariado conservar o poder apesar do mundo capitalista coligado contra ele”, no panfleto “Planeta sem passaporte”. No ano de 1935, rompem definitivamente com o PCF, no congresso internacional de escritores em defesa da cultura. Entre 1936 e 1938, a Rússia vê, apavorada, sob as ordens de Stálin, os opositores à burocracia contra-revolucionária que assumira o controle do país serem assassinados ou deportados, naquilo que ficou conhecido como os Processos de Moscou. Quando Trotsky e Breton se encontravam pela primeira vez, em maio de 1938, os últimos sobreviventes da Oposição de Esquerda russa estavam sendo assassinados. O manifesto escrito em 25 de julho faz o chamado à construção da Federação Internacional da Arte Revolucionária e Independente (FIARI), a qual, surgida às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, teve uma breve existência. No entanto, a FIARI, mesmo tendo se dissolvido ainda no início de 1939, e seu manifesto cumpriram o papel ao qual se propunham. Da FIARI, enquanto existiu, aglutinar os artistas que não viam nem no capitalismo, sendo o regime fascista ou democrático, nem no autoritarismo estalinista a solução para os problemas da arte, mas sim na luta pela independência da arte e pela derrocada do capitalismo. O do manifesto, de ser o grito dos artistas das novas gerações que buscam sua liberdade de criação, sua emancipação, rumo à revolução socialista mundial.


Por uma Arte Revolucionaria Independente

André Breton e Leon Trotsky

1) Pode-se pretender sem exagero que nunca a civilização humana esteve ameaçada por tantos perigos quanto hoje. Os vândalos, com o auxílio de seus meios bárbaros, isto é, deveras precários, destruíram a civilização antiga num canto limitado da Europa. Atualmente, é toda a civilização mundial, na unidade de seu destino histórico, que vacila sob a ameaça das forças reacionárias armadas com toda a técnica moderna. Não temos somente em vista a guerra que se aproxima. Mesmo agora, em tempo de paz, a situação da ciência e da arte se tornou absolutamente intolerável.
2) Naquilo que ela conserva de individualidade em sua gênese, naquilo que aciona qualidades subjetivas para extrair um certo fato que leva a um enriquecimento objetivo, uma descoberta filosófica, sociológica, científica ou artística aparece como o fruto de um acaso precioso, quer dizer, como uma manifestação mais ou menos espontânea da necessidade. Não se poderia desprezar uma tal contribuição, tanto do ponto de vista do conhecimento geral (que tende a que a interpretação do mundo continue), quanto do ponto de vista revolucionário (que, para chegar à transformação do mundo, exige que tenhamos uma idéia exata das leis que regem seu movimento). Mais particularmente, não seria possível desinteressar-se das condições mentais nas quais essa contribuição continua a produzir-se e, para isso, zelar para que seja garantido o respeito às leis específicas a que está sujeita a criação intelectual.
3) Ora, o mundo atual nos obriga a constatar a violação cada vez mais geral dessas leis, violação à qual corresponde necessariamente um aviltamento cada vez mais patente, não somente da obra de arte, mas também da personalidade “artística”. O fascismo hitlerista, depois de ter eliminado da Alemanha todos os artistas que expressaram em alguma medida o amor pela liberdade, fosse ela apenas formal, obrigou aqueles que ainda podiam consentir em manejar uma pena ou um pincel a se tornarem os lacaios do regime e a celebrá-lo de encomenda, nos limites exteriores do pior convencionalismo. Exceto quanto à propaganda, a mesma coisa aconteceu na URSS durante o período de furiosa reação que agora atingiu seu apogeu.
4) É evidente que não nos solidarizamos por um instante sequer, seja qual for seu sucesso atual, com a palavra de ordem: “Nem fascismo nem comunismo”, que corresponde à natureza do filisteu conservador e atemorizado, que se aferra aos vestígios do passado “democrático”. A arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser revolucionária, tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, mesmo que fosse apenas para libertar a. criação intelectual das cadeias que a bloqueiam e permitir a toda a humanidade elevar-se a alturas que só os gênios isolados atingiram no passado. Ao mesmo tempo, reconhecemos que só a revolução social pode abrir a via para uma nova cultura. Se, no entanto, rejeitamos qualquer solidariedade com a casta atualmente dirigente na URSS, é precisamente porque no nosso entender ela não representa o comunismo, mas é o seu inimigo mais pérfido e mais perigoso.
5) Sob a influência do regime totalitário da URSS e por intermédio dos organismos ditos “culturais” que ela controla nos outros países, baixou no mundo todo um profundo crepúsculo hostil à emergência de qualquer espécie de valor espiritual. Crepúsculo de abjeção e de sangue no qual, disfarçados de intelectuais e de artistas, chafurdam homens que fizeram do servilismo um trampolim, da apostasia um jogo perverso, do falso testemunho venal um hábito e da apologia do crime um prazer. A arte oficial da época estalinista reflete com uma crueldade sem exemplo na história os esforços irrisórios desses homens para enganar e mascarar seu verdadeiro papel mercenário.
6) A surda reprovação suscitada no mundo artístico por essa negação desavergonhada dos princípios aos quais a arte sempre obedeceu, e que até Estados instituídos sobre a escravidão não tiveram a audácia de contestar tão totalmente, deve dar lugar a uma condenação implacável. A oposição artística é hoje uma das forças que podem com eficácia contribuir para o descrédito e ruína dos regimes que destroem, ao mesmo tempo, o direito da classe explorada de aspirar a um mundo melhor e todo sentimento da grandeza e mesmo da dignidade humana.
7) A revolução comunista não teme a arte. Ela sabe que ao cabo das pesquisas que se podem fazer sobre a formação da vocação artística na sociedade capitalista que desmorona, a determinação dessa vocação não pode ocorrer senão como o resultado de uma colisão entre o homem e um certo número de formas sociais que lhe são adversas. Essa única conjuntura, a não ser pelo grau de consciência que resta adquirir, converte o artista em seu aliado potencial. O mecanismo de sublimação, que intervém em tal caso, e que a psicanálise pôs em evidência, tem por objeto restabelecer o equilíbrio rompido entre o “ego” coerente e os elementos recalcados. Esse restabelecimento se opera em proveito do ”ideal do ego” que ergue contra a realidade presente, insuportável, os poderes do mundo interior, do “id”, comuns a todos os homens e constantemente em via de desenvolvimento no futuro. A necessidade de emancipação do espírito só tem que seguir seu curso natural para ser levada a fundir-se e a revigorar-se nessa necessidade primordial: a necessidade de emancipação do homem.
8) Segue-se que a arte não pode consentir sem degradação em curvar-se a qualquer diretiva estrangeira e a vir docilmente preencher as funções que alguns julgam poder atribuir-lhe, para fins pragmáticos, extremamente estreitos. Melhor será confiar no dom de prefiguração que é o apanágio de todo artista autêntico, que implica um começo de resolução (virtual) das contradições mais graves de sua época e orienta o pensamento de seus contemporâneos para a urgência do estabelecimento de uma nova ordem.
9) A idéia que o jovem Marx tinha do papel do escritor exige, em nossos dias, uma retomada vigorosa. É claro que essa idéia deve abranger também, no plano artístico e científico, as diversas categorias de produtores e pesquisadores. "O escritor, diz ele, deve naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro... O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como um meio. Eles são objetivos em si, são tão pouco um meio para si mesmo e para os outros que sacrifica, se necessário, sua própria existência à existência de seus trabalhos... A primeira condição da liberdade de imprensa consiste em não ser um ofício. Mais que nunca é oportuno agora brandir essa declaração contra aqueles que pretendem sujeitar a atividade intelectual a fins exteriores a si mesma e, desprezando todas as determinações históricas que lhe são próprias, dirigir, em função de pretensas razões de Estado, os temas da arte. A livre escolha desses temas e a não-restrição absoluta no que se refere ao campo de sua exploração constituem para o artista um bem que ele tem o direito de reivindicar como inalienável. Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a qualquer coação, não se deixe sob nenhum pretexto impor qualquer figurino. Àqueles que nos pressionarem, hoje ou amanhã, para consentir que a arte seja submetida a uma disciplina que consideramos radicalmente incompatível com seus meios, opomos uma recusa inapelável e nossa vontade deliberada de nos apegarmos à fórmula: toda licença em arte.
10) Reconhecemos, é claro, ao Estado revolucionário o direito de defender-se contra a reação burguesa agressiva, mesmo quando se cobre com a bandeira da ciência ou da arte. Mas entre essas medidas impostas e temporárias de autodefesa revolucionária e a pretensão de exercer um comando sobre a criação intelectual da sociedade, há um abismo. Se, para o desenvolvimento das forças produtivas materiais, cabe à revolução erigir um regime socialista de plano centralizado, para a criação intelectual ela deve, já desde o começo, estabelecer e assegurar um regime anarquista de liberdade individual. Nenhuma autoridade, nenhuma coação, nem o menor traço de comando! As diversas associações de cientistas e os grupos coletivos de artistas que trabalharão para resolver tarefas nunca antes tão grandiosas unicamente podem surgir e desenvolver um trabalho fecundo na base de uma livre amizade criadora, sem a menor coação externa.
11) Do que ficou dito decorre claramente que ao defender a liberdade de criação, não pretendemos absolutamente justificar o indiferentismo político e longe está de nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita “pura” que de ordinário serve aos objetivos mais do que impuros da reação. Não, nós temos um conceito muito elevado da função da arte para negar sua influência sobre o destino da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte em nossa época é participar consciente e ativamente da preparação da revolução. No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior.
12) Na época atual, caracterizada pela agonia do capitalismo, tanto democrático quanto fascista, o artista, sem ter sequer necessidade de dar a sua dissidência social uma forma manifesta, vê-se ameaçado da privação do direito de viver e de continuar sua obra pelo bloqueio de todos os seus meios de difusão. É natural que se volte então para as organizações estalinistas que lhe oferecem a possibilidade de escapar a seu isolamento. Mas sua renúncia a tudo que pode constituir sua mensagem própria e as complacência degradantes que essas organizações exigem dele em troca de certas possibilidades materiais lhe proíbem manter-se nelas, por menos que a desmoralização seja impotente para vencer seu caráter. É necessário, desde este instante, que ele compreenda que seu lugar está além, não entre aqueles que traem a causa da revolução e ao mesmo tempo, necessariamente, a causa do homem, mas entre aqueles que dão provas de sua fidelidade inabalável aos princípios dessa revolução, entre aqueles que, por isso, permanecem como os únicos qualificados para ajudá-Ia a realizar-se e para assegurar por ela a livre expressão ulterior de todas as manifestações do gênio humano.
13) O objetivo do presente apelo é encontrar um terreno para reunir todos os defensores revolucionários da arte, para servir a revolução pelos métodos da arte e defender a própria liberdade da arte contra os usurpadores da revolução. Estamos profundamente convencidos de que o encontro nesse terreno é possível para os representantes de tendências estéticas, filosóficas e políticas razoavelmente divergentes. Os marxistas podem caminhar aqui de mãos dadas com os anarquistas, com a condição que uns e outros rompam implacavelmente com o espírito policial reacionário, quer seja representado por Josef Stálin ou por seu vassalo Garcia Oliver.
14) Milhares e milhares de pensadores e de artistas isolados, cuja voz é coberta pelo tumulto odioso dos falsificadores arregimentados, estão atualmente dispersos no mundo. Numerosas pequenas revistas locais tentam agrupar a sua volta forças jovens, que procuram vias novas e não subvenções. Toda tendência progressiva na arte é difamada pelo fascismo como uma degenerescência. Toda criação livre é declarada fascista pelos estalinistas. A arte revolucionária independente deve unir-se para a luta contra as perseguições reacionárias e proclamar bem alto seu direito à existência. Uma tal união é o objetivo da Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente (FIARI) que julgamos necessário criar.
15) Não temos absolutamente a intenção de impor cada uma das idéias contidas neste apelo, que nós mesmos consideramos apenas um primeiro passo na nova via. A todos os representantes da arte, a todos seus amigos e defensores que não podem deixar de compreender a necessidade do presente apelo, pedimos que ergam a voz imediatamente. Endereçamos o mesmo apelo a todas as publicações independentes de esquerda que estão prontas a tomar parte na criação da Federação Internacional e no exame de suas tarefas e métodos de ação.
16) Quando um primeiro contato internacional tiver sido estabelecido pela imprensa e pela correspondência, procederemos à organização de modestos congressos locais e nacionais. Na etapa seguinte deverá reunir-se um congresso mundial que consagrará oficialmente a fundação da Federação Internacional.
O que queremos:
a independência da arte - para a revolução
a revolução - para a liberação definitiva da arte.


Cidade do México, 25 de julho de 1938

Mais Poemas!


*De Raul Machado



A Eternidade da Busca


Busco a solidão
Como quem busca
Uma nova alma

Sigo os traços
De imensidão
Pois nesta paixão
Não há calma

Respiro

Não há ódio
Neste apagado caminho
Mórbido como no chão
Um colorido passarinho

E enquanto circulam
Milhões de tudo
Sigo meu mundo
Falando assim
Meio que mudo

Cantando
Para quem sabe ouvir

Entrando
Por onde os ousados
Clamam por sair

Melancólico
Por horas
Alcoólico

Não há busca
Somente uma puta
Duas talvez...

E peço assim
De uma só vez

Que me escrevam
Que me risquem
Que me pintem
Que me cortem

O meu neurótico
Escuro e erótico
Aclamado
E mais desejado
Fim

-Assim
Sem pena
Um escroto e belíssimo

Poema!

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*(Clique na imagem para ver maior)

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Isto não é um Hai Kai I


A noite engoliu meu Eu
Agora hei de ser
Apenas mais um breu

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Poemas!

*De Raul Machado


Caminho Cinza – São Paulo em Transe(to)


A moto grita
A flor morta
Já não me irrita

O caminhão chora
A fumaça me entorta
E nas linhas de vida escassa
São Paulo não tem hora

Aqui o achado é perdido
E quem procura vai se perdê
Bebendo uísque com Tietê

São Paulo...
O verde é preto
A alface é veneno
A fuligem, tempero
O jardim, asfalto

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Era uma vez um ex-burguês


Pelos gestos
Ritmos e restos
E o que te resta

Vejo
Que não és
Mais o mesmo

Sobrou só
O que presta

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A


-Qual sua letra predileta?
-A letra A, a grande seleta!
-Por quê? Não creio que sejam palavras sinceras.
-Quê? Já vistes como a letra A tem as mais formosas pernas?
O poema chega a caminhar, sedutor, como se tivesse o alfabeto inteiro para amar.

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