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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Florianópolis AudioVisual Mercosul / Conto Literário Arterizar

Dia 11 de Junho começa mais um FAM em Floripa. Evento que reúne na sua programação filmes nacionais e do mercosul (curtas, longas, documentários, animações, etc), debates e palestras.

Quando: De 11 a 18 de Junho

Onde: Centro de Cultura e Eventos da UFSC

Quanto: Gratuito

Mais informações e toda a programação, veja aqui: http://www.audiovisualmercosul.com.br/

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*Conto de Raul Machado.

Da sujeira viemos, para a sujeira voltaremos


O barulho de sua máquina de escrever começava a lhe irritar. Ao mesmo tempo seu dedo indicador não conseguia parar de apertar a tecla R. De cueca e chinelo, sua boca fedia a pizza Marguerita e uísque nacional.

R
R
R

Dormiu com a cabeça na tecla A.

AAAA

A cortina abriu sozinha, o sol aproveitou para invadir o apartamento e parou bem ali na coxa branca do rapaz. Ela ficou vermelha, talvez de vergonha. Incomodado, sentiu-se obrigado a levantar. Um copo de café lhe cairia bem, se não estivesse mofado. Na falta de algo melhor pra fazer voltou para o sol. Na sua janela, um pôster com meninos tocando guitarra, escrito “The Clash”. A letra T ficou bronzeada nas suas costas. Ele cochilou de braços abertos, como Jesus um dia também fez.

Um pôr-do-sol escorria pelo céu lá fora quando ele acordou. Acreditou estar na hora de finalmente mexer na sua caixa de correio. Encontrou aquilo que pensou em encontrar. Cartas.

Uma coisa o intrigou. Todas as cartas iniciavam com a letra “O”. Até mesmo a de sua ex-namorada, que dizia assim: “O senhor é um belo de um filho da puta”. Atordoado, foi trocar as meias dos seus pés. Sentir o tecido velho saindo, o pé respirando por pequenos instantes e um tecido novo, gelado ainda, entrando no pé, o faz sorrir. Sozinho, como sempre. Ao menos o seu pé está cheiroso. Cheiro de meia. Suspirou.

Antes de dormir, o Medo aproximou-se e afagou-lhe os cabelos. Beijou-lhe as bochechas e o abraçou. Um abraço frio. A máquina de escrever, o pôster, as cartas. Tudo no liquidificador. Tudo suco, tudo no copo, como musgo, tudo dentro, no corpo. Bebeu rápido como fazem aqueles que tomam o derradeiro veneno da morte.

Rastejando no chão olhou para os céus. Antes das estrelas um teto. No teto um espelho. Antes acostumado a orgias, o espelho agora se defrontava com um bicho. E não era uma barata.

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