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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conto, de Raul Machado

Os Estranhos Mundos de Luara


Ao largo do dia. Curto é o tempo. E a menina caminha. Como lombriga na barriga alheia.

Há vários sóis que iluminam o que não deve. E é logo a noite que acolhe a pessoa que te aperta a mão com um sorriso. O gato preto. Amigo.

Passos passeados continuam a desenhar nas calçadas frias as pistas para o amanhã criminoso. Segue a lua Luara! Teu lar é o luar? Como o vento que sopra tuas idéias suaves para o leste, para o mar. No cume da rua, a calma. A vista. Ainda vestida de sombras. A pessoa Luara respira. Pira. A cidade paira aos seus pés, como o chulé. Tudo para.

O escuro tem outro cheiro, diferente do cheiro do dia. Principalmente do amanhecer. E ela deixa seus pulmões cheios de escuridão.
Ufffffffffff. Fuuuuuuuuu. Fundo. Como o poço. Mas não triste fossa. Este talvez seja um poço de desejos. Como naquelas outras histórias.

E o que ela mais deseja agora é uma outra história.

Em frente às estrelas ela se vê de frente a um espelho, com contornos seus surgindo entre as constelações já rabiscadas. Do que parecia ser um espelho surge na verdade uma tela de televisão. Do seu lado um controle remoto. Aperta o 34. Záp!

34. Ela está em uma casa de madeira amarelada pela tinta e não pelo tempo, pelo sol, ou pelo suco de manga que se derramou no carpete da sala. Dois quartos e um banheiro lá no fundo. Casa pequena. Um homem feio surge de cueca, saindo do quarto e passa por ela sem cumprimentar. Um choro vindo do outro quarto traz agonia ao clima. Um bebê. E o homem bebe nervoso. Aperta 85.

85. Faz frio e o vento é forte. Voa o chapéu. Ninguém corre atrás dele. Não há mais ninguém por aqui. Longe alguns pescadores caminham com bandejas cheias. Estão levando a comida para algum porto. Seguro? Talvez até demais. Aperta o 01.

01. Risos. Uísque. Cheiro de pólvora. A calcinha está cheia de dólares. Um cara passa a língua nos bicos dos seios de Luara. Há três corpos ensangüentados no chão. O seu coração bate forte. Por reação. A ação! Luara afasta a boca de bigode e bafo de cigarros dos seus seios. Pergunta quem são os três porquinhos assados no chão. Os presuntos. Você faz perguntas demais moça! Cocaína. Um beijo nas suas coxas. Chute no queixo. O cara fica puto com a puta. Aponta a pica e a arma. Armaram pra você menina. Aperta. Aperta. Aperta o 00. Apertaram o gatilho. Gatinho preto amigo passa novamente. Piscadela. Pisca o cú. Medo.

00. E o infinito te espera. Desliga essa merda.

Um poço com fim no off. OFF. Ufa! Cospem-te. Tu cospes. Histórias. Cores. O dia. O dia inteiro.
Já não há mais noite em ti, Luara. Bom dia só(l).

Já caminhas novamente.
Ao largo do dia.
Como lombriga na barriga alheia.

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