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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Conto Literário / Arte-Postal UDESC / Ciclo Godard

*Conto de Raul Machado

A Vida é um Violino


Um trio toca violino lá embaixo, na rua. A música sobe até minha sacada. Eu danço, como se fosse para mim. Mas não é. Eles tocam para a moça do terceiro andar, uma italiana bonitinha que está namorando o filho de um importante nome da cidade, dono de três restaurantes. Não são restaurantes de comida italiana. Não sei o que servem, só sei que não é sphagetti.
Os violinos, as coxas da italianinha e esse papo de sphagetti me deram fome. No meu armário só vejo um pacote de arroz velho e uma lata de molho pronto de tomate. Incrível como a fome sumiu. Deve ter se escondido de vergonha, ou nojo, ou enjôo. Abro, então, uma garrafa de vinho.
A garrafa ainda está na metade quando os três violinos ficam mudos e saem andando. Vejo a cabeçinha loira da italiana sumir da sacada. Minha fome já está embriagada o bastante para conseguir lembrar-se de si mesma. Eu ainda não, ainda lembro-me de mim.
Sentado na sacada, observo no canto da minha sala escura um ponto vermelho que pisca. Não consigo identificar o que é. A televisão? O vídeo-cassete? O rádio-relógio? O interfone? Não, o interfone fica na cozinha. O controle-remoto? Os meus chinelos? Não, meus chinelos não piscam pô. Que viagem. Resolvo levantar, minha curiosidade enche o saco as vezes.
Era meu celular. Tão óbvio. Quando eu cheguei já tinham desligado, desistido de falar comigo. Na telinha rachada do aparelho velho que comprei de segunda mão aparece a mensagem:

Ligação Perdida:

Beto Bolão Facul
- 01h32min AM.

Porra, ainda é cedo. Madrugada inteira pela frente. Abro outra garrafa de vinho. Vou retornar a ligação do Beto Bolão Facul. Ele faz umas matérias comigo na faculdade. Por isso o Facul. Ele é gordo, mas joga futebol bem. Por isso o Bolão. A mãe dele registrou Beto no cartório. Por isso o Beto.

-E aí Bolão. Tu ligou?
-Liguei.
-Pra que, posso saber?
-Sei lá, tinha nada pra fazer.
-Mas o que tu queria falar comigo?
-Nada não. Sei lá. Só pra saber.
-Saber o que porra?
-Sei lá, caralho! Se ta tudo bem, o que tu ta fazendo, se vai rolar algo hoje a noite... Essas coisas.
-Tudo bem. To tomando vinho. Não sei de nada não.
-Que?
-Te respondi.
-Porra, tu viaja né!?
-Tu que vem com uns papo maluco, cara. Tu ta fazendo o que, por acaso? Não ta enxugando aquele uísque que compramos pro aniversário da Anete, semana que vem, não né!?
-Não to fazendo nada, eu já te disse isso. Fica esperto, bebum.
-Quer ir tomar um cubinha lá no Bar Xadrez e ver umas gatinhas?
-Fechô! Cinco minutos to lá. Falou!

Gastei dois reais com esse merda, pra no final das contas marcarmos um barzinho em cinco segundos (quanto custa cinco segundos para a operadora telefônica?). O negócio podia ser mais simples, mas nunca é.
O Bar Xadrez é legal. Não tem nenhuma mesa de xadrez lá. Mas ta cheio de moços e moças com roupas de estampa xadrez. Mas não é por isso o nome do bar. É por que o piso é formado por lajotas brancas e pretas, e na porta do banheiro masculino tem um Rei pendurado e, adivinhem, no banheiro feminino é uma Rainha. Quando eu fico bêbado eu sempre vou lá e troco as peças. Quando fico muito bêbado eu roubo as peças. Devo ter uns dez pares de reis e rainhas guardados numa caixa de sapato. Ainda vou criar um jogo de xadrez só com eles dois. Acho que Nietzsche e o super-homem gostariam, não sei. Só sei que o dono do bar fica puto. E a clientela fica confusa. Onde mijo? Qual é meu gênero? Faço em pé ou sentado? É foda.
Enfio a rolha no vinho que estava tomando e coloco-o na geladeira. Mais tarde eu volto para ele. Desço as escadas do meu prédio vagarosamente, o Bolão sempre se atrasa um pouco. No quinto andar ouço uma briga de casal. No terceiro ouço um moleque jogando vídeo-game e no segundo alguém vomitando. Vomitando muito. No térreo ouço um “boa noite”. É o porteiro, Seu Valdir. Eu sei que ele toma conhaque escondido durante o trabalho e ele sabe que eu já levei pro apartamento uma travesti, crente que era um mulherão. Fizemos um pacto do silêncio.
A rua está vazia, tipo filme surrealista, e rapidamente chego ao Bar Xadrez. Realmente pode ser um sonho. O bar está cheio. Nada do Bolão ainda. Sento sozinho em uma mesa na calçada, peço meu cubinha e acendo um cigarro. A luz vermelha começa a piscar novamente e até a mesa treme. Agora eu já sei que é meu celular. Ele não vai me enganar novamente.

-Fala, Bolão!
-Tu me ligou?
-Quando?
-Uns cinco minutos atrás.
-Claro que liguei porra, por que você me ligou antes. Marcamos um goró aqui no Xadrez, esqueceu? Tu não ta tomando aquele uísque, ta?
-Ah é, lembrei. Foi mal, to chegando aí.
-Rápido, filho da puta!

Esse papo de luz vermelha e bolão me deu vontade de comer uma bolinha vermelha. Será que eles vendem cereja aqui?

-Não. Tem batata-frita e coxinha.

Cacete, o que batata-frita e coxinha têm a ver com cereja? Nada. Vou pedir mais um cuba. Peço dois, pois vejo o Bolão cruzando a esquina. Ta cambaleando, deve ta mamado já. O desgraçado tomou o uísque, só pode.

Um tiro. Um tiro. Um tiro. Um tiro ecoa nas paredes. Uma luz vermelha pisca. Não é meu celular. Enganaram-me. Uma luz vermelha derrete. Surreal. Não é sonho. É a cabeça do Bolão. Ou o que restou dela. O grandalhão cai no chão, no meio da calçada. Uma motocicleta sai em disparada. Filhos da puta! Beto Bolão Facul gostava de apostas. Por isso também o Bolão. Tinha me esquecido disto. Como poderia? Provavelmente perdeu e não pagou. Ele é muito esquecido.

Restaram-me os dois cubas na mesa. Bolão se atrasou para sempre. Esqueceu de viver. Prefiro pensar assim. Prefiro não chorar. Pego o meu celular.

-Olá, vocês são o trio de violonistas que fizeram uma serenata para uma italianinha coxuda hoje a noite aqui no centro?
-Sim, por quê?
-Vocês trabalham em funerais?

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*Projeto Quimera de Arte-Postal/UDESC

Projeto Quimera de Arte Postal abre convocatória para envio de trabalhos

O Projeto Quimera: Arte Postal convoca interessados do Brasil e do mundo a participar de sua segunda edição, com trabalhos que explorem a temática dos sonhos. O prazo final para envio dos trabalhos é dia 30 de maioAs propostas não tem limite de tamanho e podem fazer uso de qualquer técnica, desde que possam ser enviadas pelo correio. O material encaminhado não será devolvido, e fará parte de uma exposição temporária durante o mês de junho, em Florianópolis.
O projeto Quimera de arte postal teve início no primeiro semestre de 2009, vinculado à disciplina de Multimeios, ministrada pela professora Silvana Macedo. “Na primeira edição, recebemos trabalhos de diversos países e também de outras cidades brasileiras. Grandes nomes da arte postal enviaram trabalhos, como o artista pernambucano Paulo Bruscky”, conta a professora, que coordena o projeto.Os trabalhos enviados fizeram parte de uma exposição realizada na Rua Felipe Schmidt, no centro de Florianópolis, em junho de 2009.

Sobre a arte postal*

A arte postal surgiu formalmente no ano de 1962, quando o artista neodadaísta americano Ray Johnson (1927-1995) criou sua “New York Correspondance School of Art”. Antes disso, porém, artistas já se serviam da via postal de maneira esporádica, para elaborar trabalhos com fins estéticos, como collages e utilização de diferentes técnicas e materiais, bem como para trocar experiências artísticas. A partir da iniciativa de Ray Johnson, o correio passa a ser utilizado regularmente como veículo de expressão, tendo nos integrantes do grupo Fluxus importantes difusores desse tipo de arte. Hoje a arte postal conta não apenas com a participação de artistas visuais, mas também de poetas, músicos, arquitetos, fotógrafos, que encontraram neste meio uma maneira particular e especial de expressão.
(*Fonte: Fabiane Pianowski em www.merzmail.net/artepostalarte.htm)

Serviço

O quê: Projeto Quimera de Arte Postal – Convocatória Internacional

Quando: envio de trabalhos por correio até 30 de maio de 2010

Endereço:Centro de Artes – CEART (Serviços Gerais)Universidade do Estado de Santa CatarinaAv. Madre Benvenuta, 1907 – Bairro Itacorubi – Florianópolis – SC – BrasilCEP 88.035-001

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*Godard, 80 anos, é o homenageado na Fundação Badesc

O cineasta francês Jean Luc Godard completa 80 anos em 3 de dezembro e o cineclube da Fundação Cultural Badesc antecipa o aniversário com um ciclo de seus filmes durante as quartas-feiras do mês de maio.

São quatro títulos que compõem a primeira fase da filmografia do diretor, incluindo o clássico Acossado, de 1959. Os longas estão inseridos no movimento Nouvelle Vague e trazem uma postura auto-crítica sobre o cinema, desafiando as convenções cinematográfcas da época.
A curadoria do projeto é de Fernanda do Canto, 23 anos. Fernanda é designer gráfico formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Durante o ano de 2008, fez um intercâmbio para o curso de Diseño de Imagen y Sonido, na Universidad de Buenos Aires, onde estudou teoria e história do cinema. No ano seguinte, como Trabalho de Conclusão de Curso, realizou uma análise visual sobre a cinematografia de Godard entre 1959 e 1965.

Nesses filmes, podem-se traçar semelhanças como a preferência pelas filmagens nas ruas, com iluminação natural e locações públicas. Seus personagens têm um caráter psicológico e ambíguo, cujas histórias pessoais ou motivações muitas vezes não são compartilhadas com o espectador.
Essas experimentações tanto no método narrativo quanto na criação dos personagens são muito mais que um novo estilo: configuram o marco de uma nova época para a história do cinema.
Além disso, há diversas peculiaridades muito próprias de Godard que persistem filme após filme, como a relação entre personagens e a vida pessoal dos atores e do diretor, falas que se repetem e conceitos retomados.

MAIO
Sessões às 19 horas

Dia 5
À bout de soufe (Acossado) 1959
O filme retrata o amor fatal entre um criminoso fugitivo e uma jovem norte-americana aspirante a jornalista. Após um roubo de carro em Marselha, ele é perseguido por policiais a caminho de Paris. Na cidade se apaixona por Patrícia, que vende jornais. Michel divide seu tempo e suas angústias entre cobrar uma dívida e convencer Patrícia a fugir com ele.

Dia 12
Vivre sa vie (Viver a vida) 1962
Em doze capítulos, o filme conta o drama de Nana, uma jovem que almeja iniciar a carreira de atriz, mas passa por dificuldades financeiras. Como não consegue pagar o aluguel, Nana é expulsa de casa e não encontrando outra solução, decide se prostituir.

Dia 19
Bande à part (Banda à parte) 1964

Frantz e Arthur, dois amigos habituados a dar golpes, conhecem a tímida Odile num curso de inglês. A moça, apaixonada por Arthur, conta aos dois sobre uma grande quantia de dinheiro que sua tia Victoria guarda em casa. Frantz e Arthur começam imediatamente a planejar o roubo e convencem Odile a ajudá-los.


Dia 26
Pierrot le fou (O demônio das onze horas) 1965
Ferdinand Griffon é um professor de língua espanhola casado com uma italiana. Em uma noite, o casal vai a uma festa e deixa os filhos aos cuidados de Marianne, a quem Ferdinand parecia conhecer anteriormente. Na volta, Ferdinand e Marianne decidem fugir e se envolvem com tráfico, conspirações políticas e muita literatura.

Fonte: -- FIFO LIMA pressjornalismo cultural(48) 4141-2116, 9146-0251 jeferson lima
cine-luz.blogspot.com

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