Compre aqui o livro 'vísceras'

Conecte-se:


*Blog Raul Machado: http://raulmachado.blogspot.com/


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Arterizando / Divulgações

*Conto, de Raul Machado

O Culpado


Um relógio manchado de sangue apita no ouvido. Desperta perto demais de mim. O sangue me lembra a cena, me lembra o que fiz ontem à noite. Não consigo voltar a dormir. Está tudo perto demais de mim.

Levanto-me em direção ao banheiro. Preciso descarregar algo. Talvez eu consiga cagar minha alma.

Não vejo nada. Meu banheiro escurece. Antes de chegar, caio no chão e desapareço de minha casa. Não há mais nada perto de mim. Desespero.

Creio estar sonhando. O sangue escorre nos meus olhos, o sangue não é meu. Busco caminhar entre uma névoa forte, tateando paredes de pedra, brinquedos de crianças, sapatos furados e placas sem indicação. A neblina me faz lembrar a serra onde conheci uma menina. Não sei onde estou. Faz frio, mas estou nu.

Não vejo minhas mãos, não vejo meu corpo. Branco como nuvem, misturo-me ao cenário. Sou aquela placa, aquela parede, aquele sapato. Não sou nada. O sangue que antes me pesava a pálpebra agora aparece jorrando, diante de mim, em bonita fonte que parece estar no centro de alguma praça. Uma moça nua de costas admira a cena. Tento alcançá-la.

Acordo. Vejo a lâmpada da minha sala de casa. Ao meu lado o banheiro. O coração faz baterias de carnaval em meu peito. Preciso levantar. Limpar o sangue. Limpar a consciência já não é mais possível.

Não consigo. Os sonhos me invadem a realidade. Não consigo dormir. Não consigo acordar. Não há luta. Há apropriação. Pesadelos. Não consigo mais. Fecho os olhos. E o sangue? E meu passado? Preciso fugir.

Não consigo. Os sonhos me abraçam, me jogam no chão, me chutam a cara, me afundam na memória. A faca, a pele se abrindo, os gritos. As cenas surgem como fotografias na minha mente. Não há saída por aqui.

Preso em mim mesmo, ouço as batidas na porta. É a polícia, só pode ser. Tento gritar. A nuvem escura me cala. Relaxo os músculos, admito. Perdi. Minhas pernas não são nada mais do que frágeis plantas secas e desengonçadas. Derrota.

Aqui de dentro vejo me carregarem. Meu corpo sujo na prisão, no hospício, pessoas falando comigo, amigos chorando. Meu rosto não mexe. Sou jogado em pequena sala. Há câmeras. Elas não podem ver nada. Deito novamente na minha cama e ao meu lado a culpa sorri fedorenta. Deixo o relógio apitar, não há sangue nele, nem horas, nem medo. Sonho, pois aqui não há testemunhas. Nunca mais haverá.

-----------------------/--------------------------------

*Poesias, de Raul Machado

A CASA DA MENINA

Na madeira
Tuas madeixas
Cheias de maneiras

No quarto
Sem cadeiras
Nem um quarto de cheiro
De terceiros

Entre criado-mudos
Ao lado da cama que geme
Caminho lentamente
Na tua casa que pende

E torto como ando
Não vejo teu horizonte
Somente pontes que atravessam
Os restos de roupas
Que deixei cair tropeçando


RESSACA II

Mas sempre acorda o outro dia
Que insiste
E nunca admite
Ser o dia seguinte

-------------------/-----------------------

*Divulgações

- II Floripa Blues Festival - 21/07 - Quarta

Um noite especial dedicada ao blues com participações especiais de Fernando Noronha, Marcelo D'Ávila, Armando Felipe da Silva e Rick Boy Slim que apresentam canções no ritmo do blues.
Local: Teatro Álvaro de Carvalho - Rua Marechal Guilherme, 26 - Centro.
Horário: 21h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 meia-entrada.
Ponto de Venda: no local.
Informações: (48) 3028-8070


-28 Festival de Dança de Joinville

Estilos variados de dança, mostras competitiva, contemporanêa e infantil, oficinas, cursos, apresentações gratuitas, etc. O maior festival de dança da América Latina.
Quando: 21/07 a 31/07
Local: variados
*Mais informações e programação completa aqui: www.festivaldedanca.com.br


-Show de Jorge Drexler em Floripa

Quando: 27/07, às 21h.
Local: Teatro Pedro Ivo
Ingressos: bilheteria do CIC, TAC, Pedro Ivo, Loja Colombo Iguatemi e www.blueticket.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário